Pesquisa científica brasileira descreve novos dados sobre espécie de camarão fóssil encontrada na Bacia do Araripe
Data da publicação: 22 de março de 2021 Categoria: NotíciasUm estudo recém publicado na revista científica PlosOne (Qualis A1), desenvolvido junto ao Programa de Pós-graduação em Geologia da UFC, apresenta novos dados sobre a morfologia da primeira espécie de camarão fóssil descrita para a Bacia do Araripe, denominada Beurlenia araripensis Martins-Neto & Mezzalira, 1991.
O resultado dessa pesquisa é parte dos dados da tese de doutoramento de Olga Alcântara Barros, recém egressa do Programa de Pós-Graduação em Geologia da UFC, que teve como orientadora a Prof. Dra. Maria Somália Sales Viana, e com a colaboração de pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC) – Prof. Dr. Alexandre Paschoal, Universidade Federal do Cariri (UFCA) – Prof. Dr. João Hermínio da Silva, e Universidade Federal do Piauí (UFPI) – Prof. Dr. Paulo Victor de Oliveira em Picos/PI e Bartolomeu Cruz Viana em Teresina/PI.
À esquerda, Profa. Maria Maria Somália, docente da UVA e do Programa de Pós-graduação em Geologia e à direita Olga Alcântara Barros, egressa do Doutorado em Geologia da UFC
O artigo intitulado New data on Beurlenia araripensis Martins-Neto & Mezzalira, 1991, a lacustrine shrimp from Crato Formation, and its morphological variations based on the shape and the number of rostral spines, foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior Brasil (CAPES) – Código de Financiamento 001.
A descoberta constituiu-se na análise de treze amostras fossilíferas da espécie Beurlenia araripensis, porém cinco amostras contribuíram para a descrição taxonômica. Os materiais fósseis são procedentes da Bacia do Araripe, sul do estado do Ceará e pertencem a Formação Crato. Os materiais fósseis estão depositados no acervo fossilífero do Laboratório de Paleontologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) no campus do Pici – Fortaleza/CE, na reserva técnica do Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens da Universidade Regional do Cariri (URCA) – Santana do Cariri/CE, e na coleção científica do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) – Rio de Janeiro.
A publicação também salienta e atesta a provável plasticidade morfológica existente na região rostral, esta estrutura varia de 5 a 14 espinhos, uma observação inédita, apresentada em fósseis de camarões em nível global. Esta variação comumente é observada apenas na família existente Palaemonidae Rafinesque, 1815, com representantes atuais dos gêneros Macrobrachium Bate, 1868 e Palaemon Weber, 1795.
Beurlenia araripensis (A) Exemplar 2466/CRT (UFC) contendo 5 espinhos rostrais, depositado no laboratório de paleontologia da UFC, Campus do Pici – acervo técnico. (B e E) Espécime 2108/MPSC contendo 14 espinhos rostrais e 1673/LPU contendo 12 espinhos rostrais, depositado no museu Plácido Cidade Nuvens em Santana do Cariri – URCA. (C e D) Exemplares UFRJ 171/CR com 9 espinhos rostrais e UFRJ 243/CR com 11 espinhos rostrais, depositados no departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Fósseis de camarões são difíceis de ocorrer no registro fossilífero, pois, decompõem-se rapidamente, o grupo de camarões carídeos são raros e seus detalhes anatômicos não ficam bem preservados na rocha devido muitas vezes ao estado de preservação da amostra, detalhes anatômicos mais delicados normalmente são perdidos ou ficam mal preservados, dificultando a identificação dos táxons e da sua morfologia. Os novos exemplares fósseis pesquisados e apresentados nessa pesquisa, constituem as peças que faltavam em um quebra-cabeça, para ajudar na identificação desta espécie, como por exemplo, um dos aspectos característicos a serem observados, são as presenças de espinhos e tubérculos nos pereiópodos (P3-P5).
Beurlenia araripensis. A) 1673/LPU – detalhe dos pereiópodes P3-P5 com espinhos. B) UFRJ 243/CR – detalhe dos pereiópodes P3-P5 com vários tubérculos.
As novas informações morfológicas analisadas nos novos exemplares de Beurlenia araripensis e a observação da variação na quantidade de espinhos rostrais examinadas nesta espécie é de grande importância para a sua identificação, e bastante significativa para compreender os estágios evolutivos e ambientais desses camarões carídeos naquele período.
Para os pesquisadores, toda descoberta fóssil é importante, porque através dos registros preservados, conseguiu-se reconstituir parte de um cenário de vida naquele ambiente pretérito, e muitas vezes o fóssil é um exemplar único que carrega toda informação necessária para preencher uma lacuna que faltava no meio científico, por isso é importante destacar a relevância de incentivar a população a não comercializar fósseis e a doarem exemplares para os museus científicos, universidade públicas que pesquisam essas amostras.
A expectativa desta descoberta incentiva a presença de mulheres na ciência, que vem ganhando o seu espaço nos últimos tempos, um campo tradicionalmente masculino, que cada vez mais ocupa espaço em coordenação científica. Espera-se também que esta pesquisa entusiasme o público científico e curiosos que tem interesse sobre a paleontologia, a conhecer um pouco sobre os fósseis da Bacia do Araripe através de visitas nas universidades e nos museus de paleontologia.
O artigo pode ser acessado em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0247497